sábado, 26 de janeiro de 2008

Em busca da sonhada liderdade

O sonho


Ultimamente vinha pensado muito em dar uma guinada na minha vida e uma das possibilidades seria ir morar em um veleiro e passar o tempo que me resta de vida navegando pelo litoral brasileiro e/ou talvez um dia fazendo a volta ao mundo. Essa ideia já me acompanhava a bastante tempo. Quando menino, eu lia uma HQ cujos personagens moravam em uma casa flutuante e imaginava que isso deveria ser um barato. Mais tarde, já na adolescência, descobri que era possível se morar em um barco e a ideia me encantou. Na verdade nunca tive grana pra comprar um veleiro, mas acreditava que com a aposentadoria seria possível. Finalmente  aposentei-me e pensei: "Chegou a hora". Reuni as economias e em julho de 2007, resolvi entrar em uma comunidade sobre o assunto no Orkut onde criei um tópico solicitando opiniões e informações sobre como viver a bordo. Muita gente participou dando algumas dicas que visavam ajudar-me a decidir pela escolha e compra do barco, porém com algumas pessoas perdi contato, mas com outras consegui manter uma troca mais constante de informações, nos tornamos grandes amigos e ainda me acompanham colaborando e dando força ao meu sonho. Cinco deles se destacaram pela importância que tiveram nos fatos que se desenrolaram a partir de então. O primeiro a participar foi o Pedro, depois o Sérgio e o mais adiante o Arigatô. Alguns dias depois o Augusto também deu sua colaboração. A minha amiga Vivi, veio trazer o toque feminino de encanto ao meu grupo de novos amigos. Devo registrar também a participação indireta do Grande João Sombra. Hoje todos fazem parte da minha página no Orkut.




A pesquisa

A partir daí, enquanto estava me preparando para a prova de Arrais Amador, foi sempre mantida uma troca de opiniões e informações sobre modelos, tamanhos e a escolha do veleiro que estivesse dentro das possibilidades do meu sonho. Sempre que algum deles encontrava na net, um barco que poderia  servir-me, repassavam o link para que, mesmo que se eu ainda não tivesse a grana suficiente, desse uma olhada para inteirar-me da realidade. Até que no dia 13 de dez de 2007, quando entrei no Orkut, havia um recado do Arigatô sobre um veleiro Sírius 27 que se encontrava em Porto Belo, SC. Cliquei no link e fui conferir. Fiquei muito entusiasmado pois o preço estava dentro do que eu poderia pagar e realmente me pareceu um bom negócio e imediatamente repassei a informação para o Pedro e o Sérgio que estavam mais próximos do local. O barco, segundo conversa com o proprietário, precisava de "um dono", pois estava sem cuidados há mais de um ano e ainda de alguns reparos de pintura e vernizes. O Pedro entrou em contato com ele para que fossem disponibilizadas algumas fotos para uma pré-avaliação do seu estado. Continuamos conversando durante alguns dias sobre o barco e tomei a decisão que iria comprá-lo e fazer as reformas necessárias, porém, precisaria saber o que eles achavam da ideia. Ambos opinaram que parecia ser um bom negócio e ficaram de ir ver o barco pessoalmente. No dia 21 de Dez, o Pedro viajou e iria encontrar-se com o Sérgio para juntos darem uma olhada no barco, mas por problemas particulares, o Sérgio acabou por não poder ir e o Pedro foi somente com a família. Não conseguimos mais contato com o Pedro durante vários dias e além de não sabermos nada sobre o barco, eu e o Sérgio começamos a ficar preocupados com a segurança do Pedro e da sua família que não davam notícias. Até que no dia 28 de Dezembro ele finalmente reapareceu.




Relato do Pedro

"Olá, pessoal, desculpem a demora... só agora lembrei do celular esquecido no carro, com trocentas ligações não atendidas. É o seguinte: entrei no barco; em geral ele está meio abandonado, mas nada que um pouco de água e sabão não resolvam; um verniz nas partes de madeira deixarão com aspecto de novo... não vi nenhuma trinca ou fissura que parecesse estrutural (tinha um quebrado na lateral do WC, mas eu creio que pode ser remendada); também tinha água no porão, precisando ser drenada (também não sei de onde é a infiltração); não funcionamos o motor, mas o guardador responsável pelo barco disse que é só dar uma carga na bateria que ele funciona bem... como estamos na alta temporada, ele estava sem tempo para nos atender direito, disse que se viéssemos depois da passagem de ano, ele poderia dar mais atenção, até dar uma volta com o barco pela baia. Estou em Florianópolis, na volta posso dar mais uma passada por lá e fazer isso; volto dia 02/01. Pelo preço, ainda acho um bom negócio, calculo que você irá gastar de cinco a seis mil reais para deixá-lo inteiro... mas são coisas que você pode fazer aos poucos, morando no barco."
Pelo relato, havia mais coisas a fazer do que o proprietário havia descrito, mas mesmo assim entrei em contato com os proprietários e reservei a compra do barco, dando uma parte em depósito bancário e o restante seria complementado quando chegasse a Porto Belo.

Cabe aqui uma observação. Quem é o Pedro? Bem, descubra você mesmo, vale à pena conferir, visite o blog: http://indomavel-osonhofeitoamao.blogspot.com/


Diário de bordo

O Primeiro ContatoDia 14 - Segunda-feira.

Cheguei a Itajaí às 9h00 da manhã conforme havíamos combinado para encontrar com o Sérgio, porém ele ainda não havia chegado. Por volta das 10h15 nos encontramos. Era nosso primeiro contato e fiquei muito contente em conhecê-lo pessoalmente e também a sua esposa Vera. Ambos foram muito gentis e se mostraram muito entusiasmados com a finalização do meu projeto.
Fomos para Porto Belo e chegando ao nosso destino, começamos a procurar pelo local do barco, que era onde o Junior, proprietário atual, havia combinado para nos encontrarmos. Depois de alguns contatos telefônicos com o outro proprietário, Sr. Marcelino, que mora no local, finalmente encontramos o barco e enquanto aguardávamos pela chegada do Junior, resolvemos visitá-lo pra ter uma idéia mais exata do seu estado.
Fomos à procura do João de Deus e depois de localizá-lo a bordo de um pesqueiro, ficamos aguardando por quase uma hora para sermos transportados até o barco. Quando finalmente chegamos ao Kon-Tiki. Somente aí é que foi possível fazer uma avaliação pessoal dos problemas citados pelo Pedro. Quando abrimos a gaiuta e entramos na cabine, fiquei atônito pois me deparei com aproximadamente dois dedos de água no seu interior. Verificamos que o motor não virava e depois de várias tentativas concluímos que possivelmente a bateria estava descarregada e passamos a verificar outros elementos eletro-eletrônicos e a única coisa que funcionou mesmo foi a bomba de porão, mas somente com uma ligação direta. Conseguimos colocá-la pra funcionar e drenamos a água da cabine. O barco estava necessitando de reformas que, em minha opinião, não poderiam ser realizadas estando ele na poita e/ou ainda morando-se dentro dele. Além de muitas coisas pra limpar e lavar, haveria também pra lixar, restaurar com fibra e lixar novamente e pintar... Sem contar que ainda será necessário também desmontar algumas divisórias para facilitar este trabalho e isso, somado aos problemas encontrados e documentados pelo Pedro, aumentou minha preocupação e comecei a achar que havia muita coisa a ser feita e que isso demandaria muito tempo. Na verdade, o estado geral do barco parecia bem pior do que eu imaginava a princípio e embora estivesse entusiasmado, na verdade uma sensação estranha começava a tomar conta de mim. Saímos do Kon-Tiki de volta para o carro e percebi que, para chegarmos ao barco ou sair dele ficaríamos dependendo sempre do amigo João para nos levar e trazer no seu caíque motorizado e que nem sempre estava disponível para esse transporte. O tempo de espera por ele, chegava a ser de uma hora e, se eu realmente iria morar no barco enquanto estivesse fazendo a restauração, teria sérios problemas de locomoção e isso me deixou mais preocupado. Chegamos a terra e já estávamos manobrando para sair, quando o Junior chegou com a família e todos foram apresentados. Também fizemos alguns comentários e trocamos algumas informações sobre o Kon-Tiki. O Sérgio resolveu ir embora. Fiquei com o Júnior, fomos almoçar e fui conhecer o Marcelino, o outro proprietário do barco que me tratou muito bem e nos tornamos grandes amigos. Fiquei hospedado em sua casa e no final da tarde fomos, eu e o Junior, visitar o barco. Chegando lá, novamente o mesmo problema, tivemos que aguardar a disponibilidade do João de Deus para nos transportar até lá. Chegando ao barco, fiquei mais aliviado, pois verificamos a inexistência de água no porão, mas constatamos que realmente nada da parte elétrica funcionava, nem as luzes de bordo, rádio, nada. Apenas a bomba do porão continuava funcionando e assim mesmo quando feita uma ligação direta. Tentamos ligar o motor inutilmente, não funcionou. Deixamos o barco voltamos para a terra e procuramos por um eletricista, mas não estava disponível no momento e marcamos para o dia seguinte pela manhã. O dia estava acabando e nada mais poderia ser feito. Voltamos para casa. Choveu muito durante toda a noite.


Sonho ou pesadelo
Dia 15 – Terça-feira

No dia seguinte fomos para o barco às 8h30 da manhã conforme combinado com o eletricista e esperamos até 9h30, porém ele não apareceu. Resolvemos ir nós mesmos até o barco e chegando lá, novamente constatamos que havia água na cabine, porém em menor quantidade. Tentamos fazer o motor funcionar sem obtermos sucesso. Conseguimos esgotar a água do porão e resolvemos levar as baterias para recarga. Levamos o inflável para encher e durante o trajeto comecei a pensar em todas as dificuldades que estavam surgindo e também na impossibilidade de resolvê-las, não somente por não entender nada dos problemas constatados, como também pela dificuldade que seria o ir e vir até o barco, isso me atormentava. Com o passar do tempo, aquela primeira impressão negativa que tive do barco somada a todas as dificuldades encontradas, principalmente de não poder colocar o barco atracado no cais pelo menos à contra-bordo de outro, começou a colocar por terra a minha ideia de reformá-lo. Senti desânimo.
Deixamos o inflável para encher e fomos resolver assuntos bancários em Itapema e Meia Praia e embora estivesse muito chateado com a história do barco não pude deixar de observar a quantidade de mulheres bonitas na cidade e isso me alegrou um pouco. Resolvemos a transferência do dinheiro restante do barco e voltamos para pegar o inflável, o levamos para casa e fomos almoçar.
O sol por aqui, parece ser muito mais quente do que no Rio ou pelo menos queima muito mais, tive de usar protetor solar pois a pele arde ao sol. Depois do almoço voltamos para casa no final da tarde levamos a família do Júnior para a Praia das Bombas e fomos pegar as baterias para levá-las ao Kon-Tiki. Ao chegamos ao eu já não tinha mais esperanças de vê-lo navegar. Religamos as baterias e finalmente o motor virou e funcionou a contento. Pelo menos isso funcionou. O restante da parte elétrica continuava na mesma maneira, sem funcionar. Aproveitei para dar uma olhada mais detalhada no barco e para minha surpresa descobrir que além de tudo já constatado, o barco não tinha a âncora, os extintores, dos seis coletes previstos somente foram encontrados dois e os luminosos também estavam inutilizados. Algumas partes do forro de fibra estavam danificadas e necessitavam reconstituição além de muita sujeira e umidade por toda parte resultantes das infiltrações pelas gaiutas, que apresentavam acrílico rachados e borrachas ressecadas e partidas. O que já não estava bom ficou ainda pior. Para mim que não entendo nada de barco, a situação era desesperadora. Agora, além de pensar em desistir, do jeito que o barco estava, já admitia a possibilidade de aceitar perder dinheiro para me desfazer dele. Comentei com Junior que estava pensando em desistir do barco e recolocá-lo a venda. O Junior tentou me estimular a continuar e a fazer-me mudar de idéia. Naquele momento aceitei não desistir totalmente, mas para mim, aquilo tudo estava sendo algo como um despertador me acordando de um sonho. Resolvemos ir embora e fomos ao encontro da família do Junior na praia, ficamos por lá um pouco e fomos para casa. Passei a noite acordado e aquilo que há dois dias atrás era um sonho, agora havia se transformado em pesadelo.


Mudança de estratégia

Dia 16 - Quarta-feira.

A noite acordado foi rejuvenescedora e mostrou-me novos caminhos e novas opções. Tendo em vista que diante de tantas dificuldades eu não poderia morar no barco enquanto estivesse fazendo a reforma, então eu passaria a morar em uma casa, apto ou pousada até que as reformas estivessem concluídas. Em conversa com Sérgio ficou descartada a ideia de ficar atracado no caís ou a contra-bordo de outro barco, em virtude dos ventos na região. Resolvi então que vou tirá-lo da água pra fazer os reparos em terra, embora o Sérgio seja contra, pois acha arriscada a manobra, diante da possibilidade de causar algum dano à estrutura do barco, mas estou disposto a arriscar, se já estou perdido, então... perdido e meio. A opção que me resta é uma marina seca onde vou colocá-lo em uma carreta e numa área coberta e permanecerá lá durante todo o trabalho de reforma e somente depois que tudo estiver resolvido é que será novamente devolvido à água. Acredito que só assim terei oportunidade de continuar com a ideia de reformá-lo e não me desfazer dele. Eu mesmo liguei para o eletricista e marquei para nos encontrarmos na manhã seguinte. Aproveitei o restante do dia para encontrar um lugar para morar e uma marina onde fosse possível fazer o serviço de restauração do barco. O melhor preço que encontrei foi o aluguel da carreta por duzentos e cinqüenta reais por três meses e uma mensalidade de permanência na marina de cem reais, ainda com a possibilidade de pernoitar no próprio barco. Com isso eu me animei bastante, porém ainda assim resta um problema: o barco somente poderá ser retirado da água depois do carnaval e ainda estamos no dia 16 de janeiro e até lá, fazer o que? Novamente vaguei pela cidade. Fui a um Cyber tentar acessar meus e-meils e acabei me aborrecendo. Senti-me muito só.
O Junior foi embora pro RS e de agora em diante estava por minha conta.



Esperanças renovadas

Dia 17 - Quinta-feira.

O eletricista chegou no horário previsto, aguardamos uns vinte ou trinta minutos pelo João de Deus e fomos para o barco. Depois de uma breve inspeção, refez a instalação que acionava o motor e a bomba de porão, para que ficasse mais fácil os seus respectivos funcionamentos. Olhou o restante da instalação constatando que a fiação é muito antiga e precisará ser trocada, pois os fios estão oxidados e poderão ocasionar problemas de funcionamento dos equipamentos no futuros. Fez um comentário que realmente o estado geral do barco é bem ruim, porém nada que comprometesse a estrutura, mas encontrou muitas coisas pequenas para fazer e reconheceu que o serviço de restauração demandaria muito tempo, mas que poderia ser feito por mim mesmo. Aconselhou-me a não desanimar e que o melhor que poderia fazer era encarar o desafio. Achou que seria conveniente tirá-lo da água visto que assim seria mais fácil executar os serviços necessários tanto de elétrica como todo o restante, principalmente pintura e que não me preocupasse com a parte elétrica, que não seria algo que eu não pudesse pagar. Sugeriu que primeiro fizesse todo o serviço de restauração e somente mexesse na parte elétrica por último. Mais conformado aceitei a opinião dele e fui para casa. Antes dei mais algumas voltas pela cidade procurando o local para morar, mas verifiquei que os preços das pousada e apartamentos estavam fora das minhas possibilidades, porém, depois do carnaval voltariam à normalidade. Continuei passeando e fotografando o lugar. Fui a um Cyber Cafe para acessar a Net e verificar os e-mails e depois fui pra casa. Passei o restante da tarde conversando com...


o Marcelino... .....e com a Aparecida


Relaxando a mente
Dia 18 - Sexta-feira.

Pela manhã novamente sai para procurar pousadas ou apartamento para morar enquanto estivesse fazendo os reparos no barco. Não encontrei nenhuma opção melhor do que aquela oferecida pelo Mario. Confirmamos a data provável que teríamos maré cheia suficiente para puxar o barco como sendo no início de fevereiro confirmei com ele o aluguel da carreta e do espaço para os reparos. Fui então à procura de um local para permanecer quando voltar depois do carnaval. As pousadas e aptos agora ofereceram-me preços bem mais atraentes para depois das férias. A vantagem da pousada é que uma delas, fica próxima a casa do Marcelino, mas o apartamento fica bem mais próximo do local onde ficará o barco, facilitando assim o meu deslocamento. Embora a pousada me ofereça mais mordomia, pois terei arrumadeira, o apartamento é mais atraente, pois me oferece maior privacidade. Vou optar pelo apto. Fui almoçar e passei o resto da tarde vadiando pela cidade e fotografando a praia.





Dando um tempo


Dia 19 - Sábado.

Levantei cedo e fui ao qual precisava passar as últimas instruções João de Deus e tiramos algumas fotos. Voltei para casa e fui tomar banho e arrumar as malas para a viagem de volta ao Rio às 14h30. Cheguei cedo à rodoviária de Itapema e esperei até 17h20, horário da partida do meu ônibus. A volta ao Rio foi tranqüila .







Meu retorno a Porto Belo



Preparativos pra tirar o Kon-Tiki da água



Domingo, 09 de março.

Aqui inicia a segunda etapa da aventura.
Saí de São Gonçalo, RJ, às 06h30 da manhã tendo Porto Belo como destino. A viagem foi tranqüila até por volta das 11h20, um pouco antes de Guarulhos onde me envolvi em um acidente sendo jogado no acostamento por um caminhão. Perdi a roda dianteira direita e a traseira parcialmente. Somente consegui prosseguir viajem uma hora e meia depois. Como conseqüência perdi mais cinco horas de viagem rodando em Sampa, procurando um local para comprar um aro novo e montar os pneus, porém no final apenas consegui um quebra-galhos, mas que serviu para prosseguir viagem. Tomado pelo cansaço, às 22h30 resolvi para em Curitiba para dormir e prosseguir no dia seguinte.

Segunda-feira, 10 de março.

Pela manhã, resolvi tudo sobre os pneus e finalmente às 14h15 estava almoçando em Porto Belo.
Fiquei na casa do Marcelino aguardando o contato com o proprietário do apto que ficava mais próximo do barco, mas para minha decepção, ele resolveu aumentar o preço de R$200,00 para R$400,00 com a luz e a água por minha conta. Resolvi aceitar a proposta da pousada que, embora mais longe acabou se demonstrando a melhor opção, visto que os proprietários além de serem muito gentis, ainda me disponibilizaram a rede wireless da pousada. Certamente conquistei novos amigos.
Fui alojar-me no novo endereço e aproveitei para fazer algumas compras.

Terça-feira, 11 de março.

Fui procurar o Mario e saber da carreta e para minha surpresa nada havia sido feito, o cara que havia ficado encarregado de fazer os reparos não apareceu. Tentei localiza-lo em diversos lugares da cidade, mas sem resultado e fui tentar procurar outro cara pra consertar a carreta, mas sem sucesso. À noite votei pra pousada e fui acessar a net para tentar conversar com alguém.




Quarta-feira, 12 de março.

Pela manhã, fui à Mariscal, e à prefeitura de Bombinhas resolver o problema de um terreno para uma amiga e à tarde fui ver como estava o barco e depois tentar novamente conseguir alguém para consertar a carreta. Como não consegui, resolvi eu mesmo fazer o conserto. Fui à Meia-Praia pegar grana no banco. Voltei no final da tarde. Chovia.


Quinta-feira, 13 de março.

Foi um dia inteiro entre idas e vindas ao borracheiro e à oficina mecânica, mas finalmente no final da tarde estava tudo resolvido, porém perdi o último dia de maré cheia no horário da tarde para puxar o barco. Agora terei de esperar até o dia 21 de março.






Sexta-feira, 14 de março.

Passei o início da manhã em casa fui conversar com o Mario Hoje resolvi tirar o barco da poita próxima da Pioneira e trazê-lo para outra mais próxima de onde será retirado da água. Existe até uma possibilidade de puxar o barco antes do dia 21.


Conversei o Cacinha, ele é um barqueiro que faz transporte de passageiros entre a cidade e a ilha, dá apoio marítimo rebocando embarcações com problemas e também instala poitas e faz manutenção. Segundo ele é possível puxar com o barco dele a careta até colocá-la embaixo do barco e trazê-la de volta com o barco até próximo da areia onde o reboque será completado pelo trator cedido pela Prefeitura local.







Sábado, 15 de março.

Hoje fomos rebocar o Kon-Tiki e trazê-lo para sua nova posição. Tudo transcorreu sem problemas.










Quarta-feira, 19 de março.


Hoje, fui à CP de Florianópolis para tentar resolver o problema da documentação do barco, mas a jurisdição de Porto Belo pertence à CP de Itajaí. Soube pelo comando, que embora estando com a documentação atrasada, a Marinha não estava cobrando a multa e isso me deixou mais aliviado. Mas nem tudo, aqui na nossa santa terrinha, são flores. Quando voltei a Porto Belo, descobri que a porta do carona do meu carro havia sido arrombada e roubaram o toca-fitas... Coisas do brasil (tem que ser com letra minúscula mesmo).

Quinta-feira, 20 de março.

Pela manhã fui à CP de Itajaí, peguei a relação dos documentos necessários e os formulários para preenchimento. Soube que será cobrada a multa correspondente ao atraso, o que mostra que as coisas por aqui são muito piores do que se pode imaginar... rsrsrs! Voltei pra casa e fui providenciar a documentação.

Sexta-feira, 21, 22 e 23 de março.

Nenhum desses dias trouxe novidades. A maré continuava insuficiente para a altura da carreta e nada pode ser feito.



Inexperiência, erros e conseqüências
Segunda-feira, 24 de março.

Hoje será nossa última chance nesta semana, de hoje em diante a maré começará a baixar. O horário previsto para a maré mais alta será as 15h25.
Fui à prefeitura e confirmei o trator para às 15h15. Preparamos a carreta e a levamos para a água. As 14hs iniciamos a operação de colocar o barco sobre a carreta, tivemos muita dificuldade por dois motivos, primeiro que a quilha do barco é muito grande e tivemos que levar a carreta para um local mais fundo do que imaginávamos e segundo, o motor do barco de apoio que iríamos usar para colocar o barco sobre a carreta pifou e o que conseguimos, além de ser mais fraco, não contava com um timoneiro muito experiente e o tempo que se perdeu por isso, foi desesperador. O resultado foi que somente por volta de cinco horas é que o barco saiu da água.




Agora era levar a carreta até o local onde ficaria para reforma e ao iniciarmos o transporte, novas surpresas me aguardavam. O pneu traseiro esquerdo da carreta furou e a roda apresentou problema de rolamento. Não havia nenhuma possibilidade de conserto naquele momento e o jeito era torcer pra ela não cair durante o percurso. Mas como diz que desgraça nunca vem sozinha, o pneu dianteiro direito também começou a vazar... Ainda faltavam percorrer 100 metros de areia. Parece brincadeira, mas é verdade.
Bem, apesar de todos os contratempos, conseguimos finalmente chegar ao nosso destino. A primeira providência foi calçar a carreta. Isso foi também uma experiência muito ruim porque descobrimos que não tínhamos um macaco que suportasse duas toneladas e o resultado foi que, o que possuíamos, terminou a tarefa completamente torcido e teve de ser aposentado.
Nosso objetivo estava concluído e o barco finalmente estava fora da água, pronto pra iniciar a reforma e em condições seguras. Seguras?...
Terça-feira, 25 de março.
Hoje pela manhã fui a Itajaí dar entrada na documentação. Fui muito bem atendido pelo Sgt. Julio e saí de lá satisfeito, visto que não havia nenhuma pendência. Agora será somente esperar pela transferência da documentação que virá de Angra dos Reis. Voltei para Porto Belo e fui almoçar.
À tarde, por volta das 15h, fui providenciar a limpeza do casco. Chamei o Cleper, limpamos o grosso e deixamos para fazer uma limpeza mais apurada no dia seguinte pois não tínhamos pressão de água suficiente para lavá-lo como deveria.





Quarta-feira, 26 de março.

Conseguimos alugar um pressurizador de água, pensando que facilitaria nosso trabalho, doce ilusão. Para remover o limo, nem usando X14 resolveu. Precisamos mesmo é esfregar muito com escova de aço e sabão em pó. Depois de alguns contratempos, com a administração da marina, finalmente às 16h demos por encerrada a tarefa. Já sem ânimo, resolvi ir pra casa.






Quinta-feira, 27 de março.

Cheguei à marina por volta das oito horas e depois de fazer uma revisão na sustentação da carreta, resolvi que deveria substituir os calços que foram improvisados por calços definitivos de ferro ou cepos de madeira. Por problemas de custo e demora pra confecção, optei pelos de madeira e fui providenciá-los. A madeireira só teria entrega para o dia seguinte pela manhã.
Voltei e fui dar uma olhada no barco e na carreta.
Lembra que falei no final do dia 24 sobre o barco estar em condições seguras? Pois é, não está. Por baixo do pano que reveste a madeira para não arranhar o casco, descobri que a madeira apodreceu e o peso do barco está empurrando a estrutura para o lado, os parafusos de fixação estão adentrando na madeira e o barco corre o risco de cair da carreta.
Quando colocamos o barco sobre a carreta ainda na água, não observamos que, como o berço não fora construído especialmente para esse barco, ele havia ficado um pouco fora da posição e precisava ser deslocado para um dos lados. Da maneira como se encontra, o peso está sendo jogado mais para um lado, exatamente o lado que a madeira está comprometida, que do outro. A primeira coisa que me ocorreu foi usar escoras na carreta e no barco. Mandei também fazer um grampo para travar os lados da carreta, assim um impediria o outro de abrir e providenciei uma escora para a carreta, espero que tenha sido o suficiente. Ainda não estou satisfeito, mas por enquanto um pouco menos apreensivo.

Momentos finais



Minha intenção agora era retornar ao Rio de Janeiro para dar destino aos móveis e eletrodomésticos que eu possuía, entregar o apartamento, participar do exame para Arrais Amador que seria realizado no Rio Boat Show 2008, entre 04 e 13 de abril, na Marina da Glória e retornar definitivamente a Porto Belo onde pretendia residir e poder assumir a reforma do Kon-Tiki pessoalmente e finalmente poder viver no mar.
Eu pretendia estar de volta em no máximo 15 dias e resolvi deixar meu carro na pousada e voltar de ônibus. Cheguei no dia 02 e iniciei a doação dos objetos. Realizei a prova com sucesso e comprei a passagem para o dia 12 às 17 horas. Às 09 horas da manhã deste dia, levei as malas pra minha Lan e estava me preparando pra ir à imobiliária entregar as chaves do apto, quando às 10h26 recebi a visita de um oficial de justiça intimando-me à comparecer ao Juizado de Menores de São Gonçalo na terça-feira seguinte, dia 15. Motivo? Dois anos antes, a minha loja foi visitada por uma Comissária de Menores que encontrou duas adolescentes usando a internet para fazer um trabalho escolar que precisavam entregar naquele mesmo dia, mas o meu alvará de autorização para funcionar e permitir o acesso de menores, havia vencido três dias antes e esqueci de pedir a renovação que tem de ser feita de 6 em 6 meses... Estranho é que no mesmo bairro, existiam 296 Lans clandestinas, que nem licença tinham pra existir, mas essas, elas nem tomavam conhecimento... será que alguém imagina por quê?... rsrsrs!
Em conseqüência, tive de cancelar a viagem e deixar a entrega das chaves do apto para quarta-feira depois que resolvesse o assunto do juizado. Ledo engano. O processo resultou num incansável ir e vir ao juizado e, por sorte minha, a Defensora Pública, tomou conhecimento do caso e demonstrando ser uma pessoa coerente e justa, resolveu me defender... Sem previsão para conclusão do processo, a viagem de volta pra Porto Belo foi definitivamente cancelada, pelo menos até que esse assunto ficasse resolvido. Em outubro, vendo que nada se resolvia, fui buscar o carro e aproveitar para dar uma olhada no barco. Durante a viagem, aproveitei para refletir sobre qual a melhor solução para agilizar a reforma e realizar meu objetivo de vida e cheguei a conclusão que, diante das atuais circunstâncias, eu não iria poderia velejar antes de, pelo menos, uns dois anos e o melhor seria então vender o barco. Mesmo não conseguindo recuperar tudo que eu já havia gasto, mas juntando o que eu conseguisse por ele, mais o que tinha guardado pra reforma e ainda mais o conseguisse juntar dali pra frente, daria pra eu comprar um outro veleiro, em melhor estado, mesmo que fosse menor aqui mesmo no Rio de Janeiro e pudesse usá-lo e ao menos aprender a velejar (lembra que eu nunca velejei?... rsrsrs) Chegando lá, em conversa com o Mário, resolvemos fazer uma parceria: Ele administraria e financiaria a reforma e quando o barco ficasse pronto, nós daríamos umas velejadas e o venderíamos. Cada um tiraria o que gastou e se sobrasse algum, tomaríamos um porre de refrigerantes... rsrs!
Voltei ao Rio de Janeiro e dei continuidade a minha vida.
O processo no juizado se arrastou até março de 2009, qd a juíza, embora aceitando e reconhecendo os argumentos da defesa como válidos, decidiu pela pena mínima justificando-se que não poderia criar jurisprudência que viesse a beneficiar outros infratores que, agindo por má fé, usassem os mesmos argumentos. Manda quem pode e obedece quem tem juízo, embora fosse possível recurso, eu acatei, paguei a multa e dei o assunto por encerrado.
Voltei com a idéia do barco e fiz um curso de vela com o Silvio Pires, do Clube Naval nas Charitas, Niterói e num passeio pelo Jurujuba Iate Clube, encontrei o Katalin, um Brasília 27S, em bom estado, navegando e somente com detalhes de acabamento pra resolver, tipo vernizes, polimento nos metais, troca de bocais das lâmpadas de cabine e de navegação e pintura de casco. Somente coisas simples e de fácil solução que poderiam ser resolvidas nos finais de semana.
Mas como já comentei anteriormente, "nada está tão ruim, que não possa piorar." O barco está ótimo, mas quem está mal agora, sou eu. Reapareceu e se agravou um problema de hérnia de disco que já vem me atormentando há vários anos e agora quase não me deixa andar e depois de vários exames e de muitos medicamentos diferentes, parece que a solução é mesmo a cirurgia, que deverá acontecer até meados de agosto.
Estive em Porto Belo entre os dias 13 e 19 de junho e pude observar que o Mario andou tocando a reforma e comentou comigo do seu interesse em ficar com o Kon-Tiki. Eu aceitei a sua proposta e estou aguardando a conclusão do negócio para dar continuidade à próxima etapa do meu sonho, ou pesadelo, nem sei mais... rsrs!
Pra mim a etapa Kon-Tiki parece que termina aqui, mas está iniciando a etapa Katalin (todos dois com "K", engraçado isso...)
Vou aguardar o desfecho dessa etapa intermediária chamada "Cirurgia" e depois, quem sabe, eu volto!
Obrigado a quem me acompanhou até aqui, e me perdoem pelo tempo que fiquei sem escrever, mas estava me sentindo muito desanimado.

Abraços pra todos!